É com muito prazer que trago aos leitores do blog Vida & Vinho, esta entrevista especial com Rosana Wagner, enóloga e proprietária da Vitivinícola Cordilheira de Sant’Ana, vinícola-boutique nacional que cultiva seus próprios vinhedos localizados em Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul.
Rosana nos concedeu a entrevista logo após completar 30 anos de enologia, 15 deles dedicados a Cordilheira de Sant’Ana.
Continue lendo para saber o que a enóloga tem a nos contar sobre a evolução da vitivinicultura brasileira, tecnologia empregada nos vinhedos, novos produtos da Cordilheira de Sant’Ana, e muito mais.
1) Rosana, você está há 30 anos atuando como enóloga, 15 deles dedicados a Cordilheira de Sant’Ana. Nos diga, o que você acha que mudou na vitivinicultura brasileira desde que você iniciou sua carreira?
Acho que podemos sintetizar dizendo que tudo mudou.
Desde o sistema de implantação e os tratos culturais do vinhedo, passando pelas práticas enológicas, chegando até o sistema de distribuição da produção e até mesmo pela forma de comercialização e marketing do vinho, tudo foi se modificando e modernizando através do tempo.
E os agrônomos, técnicos, enólogos, marketeiros e comerciantes, todos tivemos que aderir às novas práticas, sendo que muitas vezes tivemos que ser criativos para solucionar os problemas que foram se apresentando.
Mas no final, temos um saldo extremamente positivo sobre a nossa evolução, em todos os sentidos, uma vez que a qualidade dos vinhos brasileiros, sem dúvida alguma, deu um enorme salto nestes anos.
2) Hoje, com a tecnologia avançada, muitas vinícolas procuram soluções modernas e investem em equipamentos de última geração. O que a Cordilheira de Sant’Ana tem de mais moderno e como respeitar a cultura e as tradições na elaboração de vinhos em um mundo tão tecnológico?
Podemos iniciar dizendo que a Cordilheira de Sant´Ana procura elaborar vinhos de uma forma muito natural.
Nosso processo de elaboração é o tradicional. Sempre dizemos que os nossos vinhos são artesanais pelo cuidado com que são elaborados e pelo cuidado com a produção da uva no vinhedo.
Por outro lado, eles não são artesanais quando falamos da tecnologia empregada. Temos tecnologia moderna para elaboração, o que garante total assepsia do processo, manutenção de aromas e sabores, etc.
No entanto, o emprego desta tecnologia não significa que produzimos vinhos de consumo de massa, mais conhecidos como vinhos tecnológicos. Pelo contrário, nossos vinhos são a expressão do terroir em que as uvas são cultivadas, de forma que necessitam de tempo para evoluir e amadurecer antes de mostrar todo o seu potencial.
Não apressamos nenhuma parte do processo de elaboração. Nossos vinhos amadurecem naturalmente nos tanques, barricas de carvalho ou garrafas. Além disso, não necessitamos fazer correções porque temos um cuidado extraordinário no vinhedo, o que faz com que as uvas fiquem naturalmente equilibradas, isto se comprova pela longevidade dos vinhos.
Atualmente estamos comercializando vinhos com mais de 10 anos de idade, tanto brancos quanto tintos, os quais estão perfeitos para serem consumidos.
Além disso, para atingirmos nossos objetivos, ou seja, produzir vinhos de qualidade excepcional, temos os nossos próprios vinhedos, ou seja, somos uma Adega Regional de Vinhos Finos, produzimos a nossa própria uva, no local de elaboração dos vinhos.
Nosso foco principal é a produção de uma excelente matéria-prima. Nossa produtividade é idealmente baixa, para produzir com qualidade. Todas as práticas culturais do vinhedo são voltadas para a produção de uvas sadias, maduras e equilibradas e o “terroir Palomas” foi escolhido para a implantação do projeto em função do excelente clima e solo da região, os quais são extremamente propícios para o cultivo de uvas viníferas.
A vinícola é super moderna, com todos os tanques de aço inoxidável e barris de carvalho, além de equipamentos com alta tecnologia. No entanto, costumo dizer que, “tecnologia todos podem comprar, mas um bom terroir e o cuidado diário na produção das uvas é um diferencial difícil de ser alcançado”.
Por isso, o vinhedo é tão importante!
3) Sempre ouvimos que o vinho tem o estilo do(a) enólogo(a). Qual o seu estilo e como você o transfere para seus vinhos?
Talvez, antes de estilo, tenhamos que falar em filosofia de produção.
Penso que o vinho é um produto que nasce, tem seu período de desenvolvimento, amadurece e envelhece.
Como mulher, me sinto privilegiada por Deus com o dom da fertilidade e da reprodução e, por isso mesmo, acho que tenho uma extrema sensibilidade para entender o nascimento e o desenvolvimento de um vinho.
O vinho, para ser elaborado, necessita de bons frutos, oriundos de uma boa agricultura. Dizem os sábios que a agricultura é contemplativa e, por isso mesmo, feminina. Necessita de uma percepção maior do Universo.
Acho que tenho esta imensa paciência, capaz de esperar, a cada ano, uma nova colheita, com seus frutos de características distintas e transformá-los, com sentimento, num produto que evolui constantemente, de acordo com o amor que lhe é concedido ao nascer.
Acho que é este amor e esta dedicação que fazem o diferencial de um Cordilheira de Sant´Ana. Espero que as pessoas, ao degustarem, percebam que eu procurei transferir a minha alma àquela taça.
No mais, procuro elaborar vinhos naturalmente complexos e elegantes, com grande capacidade para amadurecer.
4) Temos excelentes vinhos produzidos no Brasil, mas o brasileiro, além de consumir muito pouco, na maioria das vezes opta por vinhos importados. Na sua opinião, o que precisa ser feito para introduzir o vinho na cultura do brasileiro e fazê-lo dar mais valor ao vinho nacional?
A escolha do vinho é, na maioria das vezes, regida pelo hábito.
Da mesma forma como há pessoas que se recusam a provar determinado prato de alimento, também há aqueles que se recusam a experimentar novos vinhos.
É aí que reside o grande desafio dos enólogos e pessoas ligadas ao marketing e comercialização de vinhos brasileiros: fazer com que as pessoas provem os vinhos produzidos no Brasil sem qualquer tipo de preconceito.
Quando atingirmos este objetivo, teremos quebrado um paradigma e, neste momento, com certeza, a vitivinicultura nacional terá atingido a maturidade tão esperada.
Digo isto porque já estamos em plena condição de competir com os importados. Já temos uma enorme gama de vinhos produzidos no Brasil que supera em muito a qualidade dos importados.
Então, é só uma questão de tempo, de fazer com que as pessoas experimentem e percebam, isentas de conceitos predefinidos, a real qualidade dos nossos vinhos.
5) Recentemente, a Cordilheira de Sant’Ana e a importadora KMM Vinhos fizeram uma parceria comercial. Conte-nos um pouco sobre a importância desta parceria.
Esta parceria está sendo, sem dúvida, o grande acontecimento do ano de 2015 para a Cordilheira de Sant´Ana.
Com o passar dos anos fomos percebendo que a área comercial da vinícola deveria ter um foco mais específico.
Conforme já falamos acima, todas as áreas inerentes à vitivinicultura foram evoluindo através do tempo. E atualmente é uma exigência dos clientes e consumidores receber um tratamento diferenciado.
Hoje em dia não é possível para o enólogo ocupar-se de tudo, do vinhedo ao consumidor final. Temos que procurar parceiros que entendam a nossa filosofia de trabalho, conheçam perfeitamente o mundo do vinho e tenham experiência com clientes e consumidores, atendendo-lhes prontamente.
Foi esta percepção que nos fez buscar a KMM, a qual, ao longo dos anos, tem se mostrado uma empresa séria, que trata os produtos que distribui com extremo respeito.
Percebemos, além disso, que para a KMM também está sendo um momento de evolução, uma vez que ela passa a distribuir um vinho brasileiro num momento em que as pessoas se abrem a novas experiências, especialmente pelo momento político e econômico pelo qual passamos.
A KMM está vencendo um grande desafio, desenvolvendo um trabalho junto a clientes e consumidores de todo o Brasil, no qual fica cabalmente demonstrando o grande potencial e qualidade dos vinhos produzidos pela Cordilheira de Sant´Ana.
6) Certa vez, li uma matéria que dizia que vocês começariam a plantar a uva Pinot Noir e, talvez, Pinot Meunier, porque tinham planos de elaborar um espumante. Quando teremos um espumante da Cordilheira de Sant’Ana?
Na verdade, a produção de um espumante continua a ser um sonho para a Cordilheira de Sant´Ana.
Já temos o vinhedo de Pinot Noir produzindo, mas o momento econômico do país tem pedido precaução na execução de novas ideias.
Temos certeza de que o nosso sonho se realizará mais cedo ou mais tarde, mas queremos alcançá-lo com os pés no chão, conhecendo perfeitamente as nossas possibilidades, especialmente no que diz respeito à comercialização.
7) Para finalizar, diga aos leitores do blog onde comprar os vinhos Cordilheira de Sant’Ana e, caso queiram fazer uma visita à vinícola, como agendar.
Para comprar os vinhos da Cordilheira de Sant´Ana pode-se entrar diretamente em contato com a KMM pelo telefone (11) 3819-4020 ou pelo e-mail [email protected] ou através da própria Cordilheira de Sant´Ana pelo telefone (55) 9973-2620 ou pelo e-mail [email protected].
A vinícola possui uma programação de enoturismo, em que recebe visitantes de todas as regiões do país, conforme segue:
De segunda a sexta-feira: das 8h 30min às 16h 30min.
Sábados, domingos e feriados: das 09h às 18h.
A visita não tem custo e inclui:
- Vista panorâmica dos vinhedos, história da vinícola e seus vinhos, variedades produzidas, processos e colheita;
- Visita às instalações e cave de barris e amadurecimento dos vinhos;
- Loja com venda de vinhos a preços promocionais, bem como produtos do artesanato e culinária locais;
Duração de aproximadamente 40 minutos.
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Comentários
boa tarde,
adorei seu blog!
Qual a melhor epoca para conhecer a vinícola, como essa foto aí da entrevistada?