Leves ou encorpados, jovens ou envelhecidos, mais ou menos tânicos. Me arrisco a dizer que os vinhos tintos são os mais apreciados entre todos os tipos de vinho.
Os tintos trazem consigo uma substância natural muito importante para sua longevidade, que, ao mesmo tempo, pode gerar estranheza e um certo desconforto em quem está começando a apreciar a bebida: os taninos – polifenóis que são encontrados em inúmeros tipos de plantas e, no caso das uvas, em seus caules, engaços e sementes, causando uma sensação de secura na boca.
Em relação à sua estrutura, um conjunto de características são responsáveis por colocá-los dentro de uma escala que vai do leve ao encorpado, e esta classificação, tem relação direta com a combinação destes vinhos com comida.
E por falar em comida, os tintos são ótimos no acompanhamento de pratos que vão dos mais simples e leves aos mais requintados e gordos, principalmente quando falamos em carnes vermelhas.
Continue lendo para descobrir as características e particularidades dos vinhos tintos e aumente ainda mais o seu conhecimento.
Durante a leitura, você entenderá mais sobre:
- Produção dos tintos
- Tipos de tintos e uvas utilizadas
- Tintos mais famosos e a produção no Brasil
- Harmonização de vinhos tintos
- Ordem de serviço, temperatura e taças adequadas
- Por quanto tempo guardar o vinho e como armazená-lo depois de aberto.
Produção de vinhos tintos
Elaborados com uvas tintas da espécie Vitis Vinifera, os vinhos tintos finos chamam muito a atenção pela brilhante e intensa cor vermelho rubi ou violáceo, obtida através de pigmentos naturais encontrados na casca das uvas.
Para extração destes pigmentos, o suco ou mosto da uva deve ficar em contato com as cascas durante o processo de fermentação da bebida e o tempo de contato é o que determina o quão intenso será a cor do vinho.
De modo geral, os tintos são fermentados até que as leveduras consumam todo o açúcar natural das uvas, gerando um vinho seco de considerável teor alcoólico que, mais tarde, poderão ser amadurecidos em barris de carvalho, balanceando seus taninos e acidez, ganhando corpo, novos aromas e sabores.
Uvas tintas
Um incontável número de uvas tintas, todas da espécie Vitis Vinifera, podem ser utilizadas na produção de vinhos tintos finos e de qualidade.
Apenas a título de curiosidade, estima-se que mais de 10.000 variedades de Vitis Vinifera (somadas tintas e brancas) estão espalhadas por todo o mundo.
Destaco aqui aquelas que, talvez, sejam as mais populares entre profissionais e enófilos mundo afora:
- Barbera
- Cabernet Sauvignon
- Carménère
- Malbec
- Merlot
- Pinot Noir
- Sangiovese
- Syrah (Shiraz)
- Tannat
- Tempranillo
Tipos de vinho tinto
O corpo dos vinhos (peso, volume ou estrutura percebidos no paladar) é resultado de uma combinação de elementos naturais presente nas uvas, somados à inúmeras técnicas de vinificação.
A concentração de taninos, elevação alcoólica, níveis de acidez, amadurecimento em barris, entre outros fatores, contribuem para a estrutura final da bebida.
E conhecer os vinhos de acordo com o corpo, pode orientá-lo na compra daquele que mais lhe agrada e que melhor combinará com determinados pratos.
Logo, os vinhos tintos são sub-divididos em 3 tipos básicos, de acordo com seu corpo:
Tintos de corpo leve
Regiões de clima frio tendem a elaborar vinhos tintos de corpo leve que são, geralmente, menos tânicos, mais ácidos e com menor teor alcoólico.
Tintos de corpo médio
Os vinhos tintos de corpo médio estão no meio do caminho entre os leves e os encorpados, apresentando taninos e acidez moderada.
Tintos encorpados
Regiões de climas quentes tendem à elaboração dos vinhos tintos encorpados, que são vinhos de grande estrutura no paladar e níveis elevados de taninos e álcool.
Vinhos tintos famosos
Já ouviu falar em Bordeaux, Chianti e Brunello di Montancino?
Bordeaux
A região vinícola de maior prestígio na França e uma das poucas no mundo que produzem tantos vinhos tintos de excepcional qualidade. Nela, encontram-se os famosos Châteaus Haut-Brion, Lafite Rothschild, Latour, Margaux, Pétrus e outros que elaboram grandes vinhos, não só em qualidade, mas também em preço.
Chianti
Famoso tinto produzido em diferentes áreas da região da Toscana, na Itália, utilizando-se, majoritariamente, a uva Sangiovese. O Chianti Classico, o mais apreciado, é marcado pela presença do Gallo Nero (Galo negro) estampado em sua garrafa.
Brunello di Montalcino
Um dos tintos mais famosos da Itália que, assim como o Chianti, é elaborado com a uva Sangiovese – chamada de Brunello na região de Montalcino, uma comuna da Toscana. Uma das características dos Brunellos é seu potencial de envelhecimento, com alguns resistindo de 30 a 50 anos em garrafa.
No Brasil
A Merlot pode hoje ser considerada a variedade tinta fina que melhor representa o vinho brasileiro.
A uva que, na maioria das vezes, origina vinhos de corpo médio, com taninos e acidez moderados, faz uma combinação prazerosa com uma variedade de características opostas: a Cabernet Sauvignon – cepa com maior área cultivada no país, até o momento -.
Tannat e Pinot Noir também desempenham um papel importante na vitivinicultura brasileira.
A Tannat, que ajudou a colocar nosso vizinho Uruguai no mapa vitivinícola mundial, origina vinhos de grande concentração, tânicos e com grande capacidade de envelhecimento, com ótimos exemplares vindos da Campanha Gaúcha, região que abriga alguns dos mais antigos vinhedos do Brasil, fazendo fronteira com o Uruguai.
Já a Pinot Noir, conhecida como a mais branca das uvas tintas, adaptou-se muito bem ao clima frio da região sul do país, elaborando vinhos leves, delicados e aromáticos, principalmente na região de Campos de Cima da Serra.
Na região do Vale dos Vinhedos, podemos encontrar algumas vinícolas familiares de produções restritas que trabalham muito bem as castas Barbera, Malbec, Touriga Nacional e Syrah.
Ao norte do país, na região do Vale do São Francisco, situada entre Pernambuco e Bahia, podemos encontrar alguns bons exemplares de vinhos das uva Syrah e Alicante Bouschet, que se adaptaram bem nesta área com mais calor e menos umidade.
Harmonização
Você já ouviu a seguinte frase?
‘Vinho tinto não se toma ou não se deveria tomar em pé’
A acidez e o álcool dos tintos são elementos que influenciam bastante na combinação com a comida, porém, são os taninos que, muitas vezes, podem apresentar-se agressivos, necessitando de interação com outro alimento para simplesmente ‘acalmar-se’.
Mas é preciso alguns cuidados para que os taninos não sejam os grandes vilões da harmonização.
Apenas para exemplificar, são os taninos que, interagindo com o iodo presente em alguns peixes e frutos do mar, ‘metalizam’ o sabor da bebida, deixando uma sensação de amargor e adstringência.
Da mesma forma, acontece com a presença demasiada de sal em alguns alimentos.
Fora a questão dos taninos, existe uma regrinha básica que, obviamente, não deve ser levada ao pé da letra, mas pode nos ajudar a combinar estes vinhos com alguns pratos:
Vinho leve > Comida leve
Vinho tinto > Carne vermelha
Novamente repito: não leve a regra ao pé da letra.
Toda regra tem sua exceção. E a regrinha sugerida acima não é diferente. Em um momento oportuno, tratarei das exceções em outra publicação.
Carnes Vermelhas
Via de regra, quanto mais magra e delicada a carne, menos encorpado o vinho deve ser.
Cortes gordos como a costela ou picanha, por exemplo, ficarão melhores com tintos encorpados de boa carga tânica: Malbec, Cabernet Sauvignon ou Tannat.
Os taninos do vinho farão uma boa interação com a proteína e gordura presente na carne, deixando a combinação perfeita.
Carnes Brancas
Aqui é importante pensar na estrutura da carne e como a mesma foi cozinhada, além do peso do molho utilizado.
Quanto mais simples o conjunto acima for, mais simples e leve o vinho deve ser.
Queijos diversos
Combinam com diferentes estilos de tintos.
Os brancos moles (Brie, Camembert, Coulommiers) e semimoles (Edam, Taleggio, Gouda) ficam interessantes com Pinot Noir, Beaujolais Nouveau e demais vinhos da uva Gamay.
Já os queijos duros (Pecorino, Emmental, Gruyère) podem ser combinados com vinhos das uvas Tempranillo, Zinfandel ou Merlot.
Leia o guia definitivo sobre harmonização de queijos e vinhos.
Pizzas
As que contém queijos e molho de tomate, pedem pelos tintos de acidez elevada, que podem ser os leves ou médios, como o Chianti, Barbera ou Sangiovese.
Já aquelas com frango, pedem pelos médios de acidez e taninos moderados.
Pizzas de calabresa podem ficar interessantes com tintos mais ricos como um Cabernet Sauvignon, por exemplo.
Peixes e Frutos do Mar
Os taninos dos tintos quando interagem com o iodo presente em alguns peixes ‘metalizam’ o sabor da bebida, deixando uma sensação de amargor e adstringência.
Escolha os tintos mais leves e de maior acidez, como um Pinot Noir, Boujolais ou demais vinhos da uva Gamay, de preferência sem passagem por barris de carvalho – por serem vinhos mais frescos e frutados.
Massas
Tudo vai depender do molho. Os mais simples e ácidos ficam melhores com os tintos leves ou médios, de considerável acidez e taninos moderados.
Lasanha à bolonhesa ou uma macarronada com almondegas ficam ótimas com tintos das uvas Barbera e Merlot ou os vinhos italianos Chianti, da uva Sangiovese.
Ordem de serviço e temperatura
Quando temos diversos estilos de vinhos a serem servidos, é importante oferecê-los sempre na ordem correta de serviço, para que as características do vinho anterior nunca se sobressaia ao próximo.
A sequência mais simples seria:
- Espumantes/Frisantes > Brancos > Rosés> Tintos > Fortificados ou Sobremesa.
Se diferentes estilos de tintos estiverem a disposição, tente a seguinte sequência:
- Leves > Médios > Encorpados.
Além da ordem de serviço, para aproveitar tudo o que os tintos tem a oferecer, é muito importante servi-los na temperatura correta.
De maneira geral, podemos servi-los em temperaturas que variam entre 15 e 18ºC, mas para sermos mais específicos, podemos dividir a temperatura de acordo com os tipos de vinhos tintos:
- 15 a 16ºC
Tintos leves ou médios jovens - 16 a 17ºC
Tintos leves ou médios envelhecidos - 17 a 18ºC
Tintos encorpados e grandes tintos
Taças adequadas
É recomendado utilizar taças que tenham o bojo maior que a dos vinhos brancos, por 2 motivos básicos:
- O vinho tinto necessita de mais espaço e superfície para respirar e liberar todos os seus aromas, além de permitir a leve evaporação do álcool.
- O bojo maior também é ideal para girar a bebida dentro da taça.
Desta forma, 2 tipos de taças são recomendadas para servir vinhos tintos: Bordeaux e Borgonha.
A taça Bordeaux, maior e mais estreita, é recomendada para os tintos médios e encorpados, de preferência, os de taninos elevados: Cabernet Sauvignon, Syrah, Tannat, Merlot, entre outras uvas. Sua borda mais fechada evita que os aromas se dispersem.
Já a taça Borgonha, de bojo mais largo, permite maior contato da bebida com o ar, facilitando a liberação dos aromas, principalmente de vinhos mais delicados como: Beaujolais, Pinot Noir, Gamay, entre outros. A taça foi projetada para que a bebida explore bastante o nosso olfato.
Por quanto tempo guardar
A maioria dos tintos são feitos para serem consumidos jovens, isto é, entre o 3º e o 5º ano de produção, para que suas características sejam aproveitadas ao máximo. Porém, há exceções à regra.
Grandes tintos de Bordeaux, Brunello di Montalcino, Rioja, entre outros exemplos, podem sobreviver facilmente por 10, 30, 50 ou mais anos.
Tudo depende da concentração, acidez, taninos, a forma como foram vinificados, entre outros fatores.
Se a sua intenção é guardar o vinho por longos anos, antes, verifique se o mesmo suporta esta longa guarda.
Duração depois de aberto
No dia seguinte à abertura da garrafa, é inevitável que qualquer vinho perca suas características originais, devido ao contato com o ar.
Mas ainda sim é possível aprecia-lo por alguns dias, desde que você tome os cuidados necessários.
O vinho que sobrou, pode ser guardado na geladeira por até 3 dias, aproximadamente.
Mas este não é um número exato. Afinal, dependendo do seu estilo, um vinho pode durar mais ou menos tempo depois de aberta a garrafa.
Um vinho tinto, por exemplo, quanto mais taninos e acidez tiver, mais tempo ele tende a durar.
Ao guardar o vinho aberto na geladeira, tome os seguintes cuidados para preservar o que sobrou da bebida:
- É importante manter a garrafa fechada, com a própria rolha ou tampas especiais, a fim de diminuir o contato entre oxigênio e o vinho e evitar que os cheiros presentes na geladeira impregnem na bebida.
- Se você tiver uma garrafinha de 187ml ou 375ml, melhor. Basta enchê-la por completo, fechar e guardar, pois neste caso, o contato com o oxigênio é ainda menor.
- O ideal é armazená-lo em locais sem grandes vibrações. Ao guardá-lo na geladeira, tente não colocá-lo na porta, pois o movimento diário o manterá sempre agitado, deteriorando-o mais rápido.
- Guarde-o sempre em pé. Deixar a garrafa deitada fará com que uma maior superfície da bebida fique em contato direto com o ar presente dentro da garrafa.
O que esperar dos vinhos tintos
Vinhos tintos finos e de qualidade, principalmente os mais jovens, apresentam-se límpidos, brilhantes e sem partículas suspensas. Vinhos turvos, opacos e com algum componente sólido pode indicar algum defeito na bebida – exceto aqueles que não passam pelo processo de filtragem, trazendo algumas partículas que deverão ser removidas através do processo de decantação da bebida.
A maioria dos tintos produzidos no mundo devem ser consumidos dentro do 3º ou 5º ano de produção. Depois deste período, boa parte deles começam a reduzir seus aromas, frescor e acidez, tornando-se vinhos alcoólicos e desinteressantes. Certifique-se de que o vinho ainda encontra-se em seu pleno estado de consumo, antes de comprá-lo.
O que a maioria daqueles que apreciam a bebida espera, é encontrar um vinho harmônico, onde o álcool, acidez e taninos estejam balanceados e que cada gole seja um convite para o próximo.
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Comentários
Olá:
Gostaria de receber esse texto por e-mail uma versão para impressão, há possibilidade?
queria fazer uma noite de vinho com o meu esposo e lermos para começar a diferenciar os sabores.
Obrigada
Caroline
Caroline, tudo bem?
Eu não tenho uma versão para impressão deste conteúdo.
Sugiro que selecione o texto da página, copie e cole em um documento de texto e imprima.
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Obrigado e bons estudos 🙂
Boa noite Thiago, você tem algum post para introdução aos vinhos tintos? Umas sugestões de quais vinhos experimentar, uma vez que pelo o que você fala nos posts o tanino do vinho faz muita diferença. E quanto ao teor alcoólico eu reparei que alguns vinhos portugueses são mais elevados. Qual seria uma boa percentagem de álcool nos vinhos?
Desde já agradeço… Abraços
Oi Heliardo,
Na área de Vinhos Recomendados tem alguns rótulos tintos que eu recomendo. Você pode dar uma olhadinha lá.
Sobre o teor de álcool, não são apenas vinhos portugueses que possuem teores elevados. No post sobre os fatores que contribuem para o resultado final de um vinho, eu comento sobre como o clima das regiões vinícolas influenciam no teor de álcool dos vinhos. Geralmente regiões de clima quente dão frutos com perfeita maturação, com mais açúcar. A consequência são vinhos com maior teor alcoólico.
Não existe um teor ideal de álcool. Cada vinho tem suas características e cada pessoa tem um gosto diferente.
Já provei tintos tranquilos de 16% que não era possível perceber a graduação elevada.
Por outro lado, já provei alguns com 13% que a sensação alcoólica era intensa, incomodando bastante.
Enfim, é sempre estudar as regiões vinícolas, os estilos de vinhos que elas podem oferecer e, nestas regiões, buscar por produtores com boa reputação.
Espero ter ajudado 🙂